«Bons Rapazes»

Um buddy cop movie como já raramente se vê em Hollywood, Bons Rapazes (2016) diverte e desanuvia, reavivando um género que ainda tem trunfos na manga. A história rocambolesca junta um detetive privado atrapalhado e amargurado, Holland March (Ryan Gosling), e um brutamontes de coração mole, Jackson Healy (Russell Crowe). A dupla improvável terá um caso complexo por deslindar, contando ainda com a (preciosa) ajuda de Holly (Angourie Rice), a filha de March, que tem um faro apurado. 

Shane Black volta - e em boa hora - a um género onde já foi feliz (falamos do espirituoso Kiss Kiss Bang Bang, 2005), após um confuso Homem de Ferro Três (2013). Cheia de dinamismo e planos na mouche, a realização de Black aproveita o melhor da química dos atores, mantendo a atenção do espectador, apesar de um argumento mais murcho. Este é, aliás, o calcanhar de Aquiles da obra. Apesar de um início pujante e promissor, o ritmo vai-se esbatendo enquanto os minutos vão passando e a narrativa vai-se afogando em si mesma.

Ryan Gosling e Russell Crowe em Bons Rapazes. Foto: Out Now.
Todavia, o que vai mantendo a chama viva é o trio de atores: um Gosling inspiradíssimo, que rende as melhores cenas do filme, numa parelha inusitada e divertida com Crowe. Na comédia, o timing é essencial e ambos são certeiros. A jovem Angourie Rice também surpreende e consegue mesmo impor-se em alguns momentos. A banda-sonora está bem escolhida e adaptada à época retratada, os criativos e fervorosos anos 1970. A direção artística passa com nota positiva o desafio, o mesmo já não se podendo dizer da fotografia, que fica um pouco aquém. 

Bons Rapazes é um filme despojado e reúne, em doses moderadas, comédia e ação, não sendo propriamente inesquecível, mas conseguindo ser arrojado e até provocador em alguns momentos. A obra releva-se, sobretudo, pela sua simplicidade. Numa altura em que Hollywood se entrega aos efeitos especiais, Bons Rapazes deixa isso de lado e aposta tudo na intensidade dos seus protagonistas, uma dupla que bem podia continuar a dar ao Cinema mais algumas aventuras.

(Crítica originalmente publicada no site da Metropolis)