«Capitão Fantástico»

Capitão Fantástico (2016) é um daqueles filmes que só aparecem de vez em quando, fazendo-nos sair da sala de cinema com algo para pensar. Provocadora e pertinente, a obra explora os deveres da paternalidade, o que é ser um bom pai e educador, com um pouco de comédia negra adicionada. Escrito e realizado por Matt Ross, a obra apresenta-nos a história de Ben (Viggo Mortensen), que vive com os seus seis filhos na floresta, ensinando-os a serem autónomos e a sobreviverem na mesma. Não têm aulas, mas sabem falar várias línguas. Não têm contacto com videojogos e computadores mas discutem sistemas totalitários como se de um assunto básico se tratasse. Entretanto, a sua vida pacífica é alterada quando a mãe da família falece e Ben e filhos vão até ao funeral. O seu embate com a vida fora daquele seu pequeno cantinho colocará à prova os ideais de pai que Ben tanto defende.

Imagem de Capitão Fantástico. Foto: The Hollywood Reporter.
Com uma realização tímida mas um argumento tremendo, Ross consegue um filme peculiar e que surpreende. O protagonista Viggo Mortensen está primoroso e consegue uma das melhores interpretações da carreira, mas o que acaba por impressionar mais é o elenco jovem. A química criada entre todos dá uma magia especial ao filme e cada um – mesmo os mais pequenos – consegue convencer o espectador e todos estão à altura da complexidade (que não é pouca) dos seus personagens. 

Capitão Fantástico arranca-nos dos nossos preconceitos e questiona-nos, põe em causa e deixa dúvidas, incluindo nos próprios personagens. Esse é o elemento mais interessante, quando vemos o Capitão Fantástico, ou melhor, Ben a tirar a sua capa de super-herói e refletir se as suas opções, que considerava inabaláveis, são, de facto, as mais certas. Afinal de contas, a força heroica de Ben não reside em qualquer superpoder mas na sua dimensão humana e esta obra glorifica isso mesmo, numa dedicatória ao simbolismo da família, numa moldura cheia de riqueza poética que, por vezes, entretém e, por outras, comove. Um filme que se apodera do adjetivo fantástico na sua verdadeira aceção.

(Crítica originalmente publicada na Metropolis)