«A Queda de Wall Street»

Numa apropriação trágico-cómica da sucessão de eventos que levaram à crise do subprime, A Queda de Wall Street (2015) aborda este momento decisivo da história recente que levou à bancarrota de bancos, empresas, países e, sobretudo, pessoas. Sob a realização e argumento de Adam McKay, a história desenrola-se por caminhos desbravados pelo (bom) humor numa clara tentativa de tornar este filme numa explicação «para totós» da crise que explodiu em 2007. Tudo isto sob o ponto de vista de um improvável conjunto de investidores que apostou na falência de um sistema financeiro fraudulento. E que ganhou a aposta.

Com um elenco recheado de grandes nomes (Ryan Gosling, Steve Carell, Brad Pitt, Marisa Tomei e um Christian Bale em grande forma), a componente biográfica dos acontecimentos é temperada com uma visão um pouco mais criativa de como tudo se passou na realidade. Constantemente a quebrar a "quarta parede". A Queda de Wall Street demonstra uma grande preocupação em conseguir duas coisas em simultâneo: explicar como a crise surgiu (sempre sob o ponto de vista de quem com ela lucrou) e fazê-lo entretendo o espectador, ao mesmo tempo que levanta questões pertinentes na mente de quem pouco ou nada percebe sobre estes assuntos.

Imagem de A Queda de Wall Street. Foto: Out Now.
Se, em termos puramente cinematográficos, este projecto de McKay acaba por não assumir tanta relevância como se esperaria (o realizador/argumentista, o elenco e o assunto em foco prometiam muito!), no campo do entretenimento o papel é cumprido mais satisfatoriamente. A forma inventiva como o filme está construído é agradável e funciona do ponto de vista do humor mas a presunção de alcançar um profundo entendimento deste assunto em cada espectador é um redondo falhanço.

No entanto, para além de um leque alargado de interpretações que nos conquistam (McKay tem de dar graças a Scorcese por ter estabelecido o tom certo para este assunto com O Lobo de Wall Street, 2013, crítica aqui) e de opções de realização bastante positivas, o que fica de A Queda de Wall Street ultrapassa a história que é contada.

Christian Bale em A Queda de Wall Street. Foto: Out Now.
A forma como McKay nos força a olhar para esta crise com uma perspectiva abrangente torna o título original do filme (“The Big Short”, algo como “A Grande Escassez”) em algo de profético. Esta ideia é, aliás, sublinhada pelas notas finais do filme que antecedem os créditos: muito mais do que os momentos específicos de crises (económicas, sociais, ambientais, etc.) que são criadas pelo ser humano, o que está em causa é mesmo a sua atitude passiva para com acontecimentos que “ninguém” consegue prever. Longe da muito melhor execução do também biográfico O Caso Spotlight (2015, crítica aqui), A Queda de Wall Street peca pela demasiada ambição demonstrada na construção tão rendilhada de uma forma de contar uma história já de si tão complexa.