'Topázio', uma pedra (pouco) preciosa

Alfred Hitchcock é especialmente conhecido pelas suas qualidades em criar nos seus filmes um forte clima de suspense, o que não é, de todo, novidade. Por isso, o enredo de Topázio (1969) não será muito descortinado nesta crítica, o que não obsta a que se possa abordar a tónica geral da narrativa. Ora, o filme é baseado no romance de Leon Uris e tem como um dos protagonistas André Devereaux, um agente secreto francês que trabalha como infiltrado em Cuba a pedido dos serviços secretos dos EUA, tendo como missão investigar a actuação dos russos na ilha da América Central. Pelo meio, fica a descobrir o que é afinal o topázio, o que, neste caso, não corresponde propriamente a uma pedra preciosa.

Imagem de Topázio. Foto: kinobank.org.

A narrativa é passada de forma fluída e dinâmica, apesar de haver um ou outro momento menos pertinente. Além disso, a realização não é muito inspirada, não havendo planos de grande genialidade ou criatividade, parecendo apenas o narrar de uma história, talvez por estar demasiado preso ao romance em si. Não obstante, são imperdíveis os rasgos de humor ao longo da trama, que a aligeiram e dão outro tom à mesma, animando a representação dos jogos diplomáticos em plena Guerra Fria. Hitchcock tenta com que o espectador se sinta quase como que envolvido nas cenas, como se estivesse também a presenciá-las e podemos ver assim momentos de silêncio, mas puros de significado, que enriquecem a obra. Além disso, há algo sempre constante: a sensação de imprevisibilidade e de que não se sabe muito bem o que irá acontecer a seguir, após as cogitações iniciais.

Imagem de Topázio. Foto: kinobank.org.

Não será, decerto, o melhor filme de Alfred Hitchcock e a sua obra mais icónica e representativa do seu trabalho, mas, ainda assim, Topázio não deixa de ser uma bela narrativa misteriosa e carismática sobre os meandros da espionagem, sem parecer moroso ou enfadonho. É ainda um bom filme para se perceber um pouco do clima que se vivia na Guerra Fria.

(Crítica publicada na edição de Fevereiro de 2013 da revista Metropolis)