«Foxcatcher» - Na Luta Contra o Desperdício

A partir de mais uma história biográfica, o realizador norte-americano Bennett Miller fez-se aos Óscares de 2015 com Foxcatcher (2014), o filme que conta a história verídica de como a relação entre dois irmãos campeões olímpicos (Mark Ruffalo e Channing Tatum) de luta greco-romana e o multimilionário John Du Pont (Steve Carell) culminou em tragédia.

Com uma carreira curta mas vigorosa, Miller prolonga a sua ligação a histórias biográficas depois dos bem sucedidos Capote (2005) e Moneyball - Jogada de Risco (2011), conseguindo a nomeação como Melhor Realizador mas não a de Melhor Filme. Apesar de muito bem cotado à entrada para a época de prémios do Cinema, Foxcatcher desilude mais do que apaixona.

Steve Carrell (John Du Pont) e Channing Tatum (Mark Schultz) em Foxcatcher. Foto: Cinemagia.ro.
Face a uma história interessante, que reúne mistério, excentricidade e algum macabrismo, Miller optou por contá-la - à semelhança do que fez em Moneyball - Jogada de Risco - de uma forma extremamente pausada, parecendo procurar um certo clímax com os pontos chave da história. O resultado final fica muito aquém do esperado, deixando, ainda assim, um forte e inescapável “amargo de boca” no espectador quando o final chega até nós abruptamente. Por um lado, porque o crescendo da história é longo e o clímax nos surge de forma quase repentina e, por outro, pelo peso negativo psicologicamente que toda a trama nos faz carregar.

A salvar a “face” deste Foxcatcher temos, contudo, o brilhante desempenho de Mark Ruffalo, que, cada vez mais, vem mostrando ser um dos actores mais fiáveis e talentosos da sua geração. Será uma pena ver o Óscar de Melhor Actor Secundário fugir-lhe (merecidamente, ainda assim) para J. K. Simmons (de Whiplash - Nos Limites, 2014). Simultaneamente, temos a agradável surpresa que é o desempenho dramático de Steve Carell. Até aqui habituado a fazer-nos rir, conseguiu capturar a essência ambígua e demente de Du Pont ao ponto de sair de 2015 com a nomeação para o Óscar de Melhor Actor. Quanto a Channing Tatum, é um actor que prossegue a sua carreira à procura do reconhecimento da crítica, estando cada vez mais à vontade numa variedade de papéis assinalável mas ainda com muito caminho por percorrer até ser um actor consensual.

Channing Tatum e Mark Ruffalo (David Schultz), os irmãos campeões olímpicos em Foxcatcher. Foto: Cinemagia.ro.
Visualmente sombrio, a construção de cenários e de fotografia acompanha bem a história a que estamos a assistir. É-nos extremamente acessível cair no meio da história, embora não ao ponto de sermos completamente integrados naquela realidade. É do ponto de vista psicológico que o filme mais nos penetra e nos atinge. Afinal, nem sempre acontece um filme tão pouco carismático nos deixar abalados com o seu desfecho.