'Como Um Trovão'

Ryan Gosling, Derek Cianfrance e Eva Mendes nas gravações de Como Um Trovão. Foto: thefilmstage.com.

Começa Como Um Trovão (2012) mas termina com umas pequenas faíscas… O novo filme de Derek Cianfrance (Blue Valentine - Só Tu e Eu, 2010) divide-se em três partes, que vão decrescendo em qualidade narrativa e interesse. O início é impactante, motivando o espectador, que segue o protagonista da primeira parte, Luke Glanton (Ryan Gosling), até ao local do espectáculo, o Globo da Morte. Luke é um motoqueiro nómada, sem nada que o prenda, que corre atrás do perigo, vivendo dele. Tudo muda até que descobre que tem um filho com Romina (Eva Mendes), o que vai mudar toda a sua percepção sobre si mesmo. A partir daqui, Luke tenta, por caminhos tortos, dar o melhor ao seu filho, cometendo, para isso, roubos a bancos. É num destes crimes que tem um encontro inolvidável com Avery Cross (Bradley Cooper), um jovem polícia incorruptível. Dá-se aqui a mudança de protagonista, com a alternância de ponto de vista entre polícia/criminoso. Esta segunda parte é mais morosa e menos entusiasmante, contrastando com o ritmo alucinante e perigoso da primeira. É todavia interessante esta inversão dos papéis, que é pouco comum, mostrando falhas de carácter de ambos os lados, tanto em Luke como em Avery. O filme aborda o que acontece ao polícia que mata o criminoso, mostrando as consequências disso mesmo. No caso, o polícia fica muito perturbado, duvidando das suas próprias acções. Finalmente, a terceira parte dá relevo a Jason (Dane DeHaan) e AJ (Emory Cohen), os filhos dos dois protagonistas, 15 anos depois dos acontecimentos iniciais. É aqui que os objectivos narrativos são menos conseguidos, sendo notória a previsibilidade e a falta de criatividade no argumento.

Ryan Gosling e Bradley Cooper em Como Um Trovão. Foto: cinemagia.ro.

A realização de Cianfrance é, ainda assim, bastante interessante, aumentando o clima de suspense e adrenalina da obra, recorrendo a planos criativos e pertinentes. Quanto ao trabalho dos actores, Bradley Cooper acaba por ganhar o verdadeiro protagonismo neste âmbito, apesar de Ryan Gosling não desiludir, mesmo com a sua habitual canastrice. O actor conseguiu encontrar um bom caminho para interpretar a sua personagem, tornando-a forte e marcante. Nota ainda para a fraqueza dos personagens femininos, secos e nada complexos, como se não tivessem qualquer importância no desenvolvimento da trama – o que não é, de todo, verdade.

Ryan Gosling em Como Um Trovão. Foto: Out Now.

A narrativa de Como Um Trovão é muito criativa, surpreendendo pela sua originalidade tripartida, sendo este, sem dúvida, o melhor elemento da obra. Porém, o filme é demasiado longo, podendo ter alguma dificuldade em agarrar todos os telespectadores, que poderão perder-se com a diminuição da relevância da história e do seu impacto. A premissa é ambiciosa, acabando por ficar aquém do desejado, sendo, ainda assim, uma obra que merece ser vista.

(Crítica publicada na revista Metropolis de Setembro de 2013: cinemametropolis.com)