«Vencer a Qualquer Preço»

Vencer a Qualquer Preço (2015) é um biopic narrado a alta-velocidade, tanto que, às vezes, deixa escapar alguma abordagem mais prolífica do seu protagonista. Lance Armstrong é uma figura incontornável do desporto, pela sua incrível ascensão e pela sua queda ainda maior. Ficou na História por ser o único ciclista a vencer por 7 vezes o Tour de França, até ser descoberto que, afinal, recorreu a doping o tempo todo.

Stephen Frears já havia mostrado a sua perícia no tratamento de histórias reais, como aconteceu com A Rainha (2006) e Filomena (2013), mas agora teve um novo desafio: filmar o ciclismo, uma modalidade que, pelas suas caraterísticas intrínsecas, poderá dificultar a empreitada. Todavia, o resultado final é bastante aprazível, tendo Frears uma realização expedita e primorosa, aliada a uma fotografia virtuosa, que eleva a narrativa a outro patamar. Ben Foster tem uma interpretação carismática e é notório o seu esforço em captar todos os maneirismos e pormenores latentes de Armstrong.

Ben Foster em Vencer a Qualquer Preço. Foto: Out Now.
O filme narra todo o processo evolutivo da carreira do famigerado atleta, captando-lhe o seu carácter ambicioso e desmedido, envolvendo o espectador numa autêntica subida à montanha. A base da obra é o livro "Seven Deadly Sins: My Pursuit of Lance Armstrong", escrito pelo jornalista David Walsh, bem retratado no filme por Chris O'Dowd. Todavia, o argumento de John Hodge consegue, apenas, levantar um pouco do véu de Armstrong, sentindo-se que muito ficou por dizer. No final, parece que apenas vimos um vislumbre do ciclista e não a sua verdadeira essência, tarefa deveras mais bem conseguida no documentário A Mentira de Armstrong (2013), de Alex Gibney, que funciona como uma espécie de Lado A de Vencer a Qualquer Preço

O biopic falha na completa abordagem do seu protagonista, mas não deixa de ser um importante retrato de uma figura desportiva que nos faz pensar duas ou mais vezes quando aplaudimos determinado atleta ou mesmo outra figura qualquer. Num mundo corrompido como o que vivemos, a verdade é um direito pouco adquirido e Vencer a Qualquer Preço leva o troféu por mostrar isso mesmo com clarividência. 

(Crítica originalmente publicada na edição n.º 41, agosto de 2016, da revista Metropolis)