A melancolia pouco envolvente de 'Blue Jasmine'

Woody Allen é um cineasta genial, com argumentos poderosos e histórias absolutamente envolventes, mas este Blue Jasmine (2013) é pouco "alleniano". Tendo como música de fundo o tema "Blue Moon", o tom da obra é quase permanentemente melancólico e de decadência, num drama que há muito tempo não se via na cinematografia de Allen. A obra tem como protagonista Jasmine (Cate Blanchett), uma socialite frágil e algo desequilibrada de Manhattan, que vê a sua vida mudar por completo devido a um esquema fraudulento do seu marido, Hal (Alec Baldwin). Jasmine está agora falida e decide morar em São Francisco com a irmã, Ginger (Sally Hawkins), completamente o oposto dela.

Cate Blanchett em Blue Jasmine. Foto: darrens-world-of-entertainment.blogspot.com.

Sem qualquer dúvida, a personagem Jasmine (ou será Jeannette?) é o melhor do filme e uma das personagens mais bem construídas da cinematografia recente. Mas será que isso chega para tornar Blue Jasmine numa obra verdadeiramente marcante? Não obstante, Cate Blanchett enche a tela de momentos vivos, imprevisíveis e cheios de emoção, interpretando de forma perfeita a protagonista, fazendo com que valha a pena ver o filme só para presenciar a sua actuação. Blanchett rouba todas as atenções para si com nuances de alegria e drama, mas sem nunca perder a altivez, numa combinação difícil entre explosão dramática e contenção emotiva. Contudo, o restante elenco é também digno de nota, com actores inspirados e que vão ao limite das emoções.

Imagem de Blue Jasmine. Foto: pipocaenanquim.com.br.
A narrativa não é muito entusiasmante e o típico humor de Woody Allen não está muito presente. Continua a existir, todavia, mas é mais negro e menos envolvente do que noutras obras. Blue Jasmine não tem a magia de Meia-Noite em Paris (2011) ou o mistério irresistível de Match Point (2005, crítica aqui), mas é, ainda assim, uma das melhores obras do cineasta nos últimos tempos, agora que interrompeu o seu périplo europeu. Sem dúvida, é incomparavelmente melhor do que o anterior Para Roma com Amor (2012). O argumento não é impactante nem muito envolvente, podendo até entendiar, por vezes. Mas é sempre um filme de Woody Allen e com uma interpretação irrepreensível, o que são motivos mais do que suficientes para ver Blue Jasmine.