«Hippocrate»

O ambiente hospitalar e as questões éticas inerentes à medicina são tema recorrente tanto no Cinema como na Televisão – onde temos um dos exemplos mais bem conseguidos dos últimos anos: Dr. House, que, aliás, é referido neste filme. Mas há algum tempo que já não viamos um drama médico com a construção dramática que existe em Hippocrate (2014). A história foca-se em Benjamim (Vincent Lacoste – uma das promessas do Cinema Francês), um jovem médico que não tem dúvidas quanto à sua vocação. Contudo, quando começa o seu primeiro estágio como interno no serviço do seu pai, nem tudo corre como o esperado. É também nessa altura que conhece Abdel (Reda Kateb), um médico estrangeiro mais experiente do que ele, com quem poderá partilhar as suas limitações, a nível técnico mas também na relação com os seus pacientes, as suas famílias e o restante pessoal médico.

Vincent Lacoste em Hippocrate. Foto: Out Now.
Ao longo da narrativa, que está muito bem construída, acompanhamos a evolução de um jovem aprendiz e as suas muitas dúvidas perante adversidades inesperadas. O drama também ganha por não ser demasiado pesado, apostando em alguma leveza em momentos-chave para não resvalar no melodrama. A realização de Thomas Lilti é mais do que bem conseguida, tendo o seu auge numa cena simples mas muito executada, aquando de uma discussão entre o pessoal médico e a direcção do Hospital. Lilti enreda o espectador naquele momento, que parece sentir que está lá a vivê-lo. Hippocrate mostra-nos o melhor e o pior que a medicina pode ter mas assinala, acima de tudo, que os médicos não são super-heróis, são apenas seres humanos.

(Crítica originalmente publicada na edição de novembro de 2015 da revista Metropolis)