«O Homem Mais Procurado» - O Derradeiro “One-Man Show” de Seymour Hoffman

Grigoriy Dobrygin enquanto Issa Karpov, O Homem Mais Procurado. Foto: Cine.gr.

A partir da obra homónima de John Le Carré, O Homem Mais Procurado (2014) foca a sua intriga numa densa teia conspiratória que envolve a cidade de Hamburgo, na Alemanha, e a chegada de um imigrante ilegal de origem chechena e muçulmano. Confuso? Não há razão para tal. A adaptação de Andrew Bovell (argumentista) e Anton Corbijn (realizador) tornam O Homem Mais Procurado numa interessante peça de investigação policial, com repercussões no drama vivido por quem passa pela imigração ilegal, contendo também uma forte carga moralista do quão “cinzenta” é a área da luta entre o Bem e o Mal.

Um dos aspectos incontornáveis deste filme, que teve direito a estreia no Festival de Sundance há um ano mas que passou despercebido nesta época de prémios, é, sem margem para dúvidas, a prestação de Philip Seymour Hoffman. No último filme que gravou numa carreira verdadeiramente grandiosa, o norte-americano falecido há pouco mais de um ano deixa bem explícito todo o talento que tinha numa personagem com tanto de ambíguo como de “negro”, a fazer lembrar histórias mais antigas de polícias revoltados com o sistema que os consome.

Philip Seymour Hoffman em O Homem Mais Procurado, o último filme que gravou. Foto. Cine.gr.

Contudo, Hoffman não passa por O Homem Mais Procurado sozinho, estando (muito) bem acompanhado por um elenco de luxo, com destaque para Rachel McAdams e Robin Wright, apesar de um Daniel Brühl com pouca “chama”, atirado para um plano demasiado secundário para o seu talento.

De linhas rígidas e de uma escuridão naturalmente latente na história a ser retratada, a realização de Corbijn oferece a sobriedade (apesar de algumas opções menos interessantes) necessária para que toda a trama de Le Carré passe para o espectador com a devida tensão e suspense que o filme bem merece. Com um final nada ortodoxo e com muito por explorar, são dados os instrumentos para o espectador pensar um pouco mais (e melhor) sobre tudo a que assistiu e o seu retrato do mundo real.