«Rosa Morena»

Rosa Morena (2010), de Carlos Oliveira: a co-parceria entre Brasil e Dinamarca rendeu uma história de um dinamarquês homossexual, Thomas (Anders W. Berthelsen), cujo maior desejo é ser pai, mas que não consegue adoptar uma criança devido à sua orientação sexual. Acaba por ir até ao Brasil onde conhece uma mulher grávida que está disposta a vender a sua criança, Rosa Morena. O filme que “levantou o maior número de complexas questões morais” ao Júri do Festival Queer em 2011 e que fez com que este lhe atribuísse o Prémio para a Melhor Longa-Metragem revela-se uma história tocante e comovente, que leva o espectador a colocar-se na pele daquelas personagens, instigando-se a reflectir sobre qual seria a melhor decisão a tomar, tendo um final surpreendente. Para o Júri, este foi um “corajoso e honesto retrato da luta desesperada e, por vezes, perigosa de um homem gay pelo seu direito a ser pai, tendo como pano de fundo o extraordinário cenário das favelas de São Paulo”.

Anders W. Berthelsen (Thomas) e  a "Rosa Morena". Foto: Out Now.
Mais do que um filme sobre a homossexualidade, Rosa Morena aborda a força do preconceito e as dificuldades por que muitos passam para poder realizar os seus sonhos - e sobretudo até onde são capazes de ir para que estes se tornem realidade. A obra obriga-nos a reflectir sobre o que é afinal o papel de um pai, nem sempre encarado da mesma forma por todos. A narrativa é envolvente e dinâmica, sendo que o seu início é logo cativante, deixando o espectador com vontade de saber o que se vai passar a seguir.

Os actores foram também muito bem escolhidos, conjugando bem as diferentes nacionalidades e modos de representação de cada um. Mas o maior trunfo de Rosa Morena será mesmo o argumento, poderoso e inquietante, penetrante e sombrio. Além da história central do protagonista, o filme revela ainda o panorama das favelas, tão pobre a nível monetário, mas também a nível sentimental, provocado justamente pelas carências financeiras, o que se opõe, por completo, às condições económicas de Thomas.

Rosa Morena, apesar de ser ainda uma bebé, é a verdadeira protagonista de toda a história, inesquecível e marcante. E Carlos Oliveira soube contá-la de maneira exímia.

(Crítica publicada na revista Premiere de Novembro de 2011).