«Rogue One: Uma História de Star Wars»

Num ano recheado de super-heróis, uma parafernália imensa de poderes e explosões, poderíamos dizer que as novas adições a fórmulas algo gastas nada acrescentam. Bem, nem sempre, e Rogue One: Uma História de Star Wars (2016) mostra-nos que tudo depende da abordagem da história e da fidelidade à essência da saga. A prequela de Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (1977) conta-nos a forma como a Rebelião conseguiu roubar os planos estruturais da Estrela da Morte, essenciais para a derrota do Império, tendo Jyn Erso (Felicity Jones) como a líder pouco provável de um grupo diversificado de heróis que se une por uma causa. 

Gareth Edwards, fã inveterado de Star Wars, respeita a saga, celebrando-a, numa realização que acerta, apesar de não ser muito ambiciosa (perdendo alguns pontos quando comparada, por exemplo, à de J.J. Abrams em Star Wars: O Despertar da Força, 2015, crítica aqui). O compositor Michael Giacchino estreia-se no franchise, assinando uma bela banda-sonora, que ajuda a contar a história e a incrementar o dramatismo de algumas cenas. Destaque ainda para a fotografia de Greig Fraser, que consegue mais um bom trabalho após Lion – A Longa Estrada Para Casa (2016, crítica aqui), levando-nos numa viagem oscilante entre o desespero e a esperança, traduzindo para a tela elementos identitários da saga.

Felicity Jones em Rogue One: Uma História de Star Wars. Foto: IMDb.
A escolha de casting é profícua em boas interpretações – Felicity Jones, Riz Ahmed e Ben Mendelsohn destacam-se – apesar de os personagens não terem grande corpulência, realçando-se K-2SO (Alan Tudyk), um dróide Imperial reprogramado que diz tudo o que lhe apetece. Além disso, há um certo desperdício de atores que poderiam ter um maior realce, como Forest Whitaker e Mads Mikkelsen. Quem dá o ar de sua graça é Darth Vader (mais uma vez com voz de James Earl Jones), o vilão supremo, numa participação de poucas cenas mas que se revelam cheias de significado e pujança. Neste sentido, os fãs irão, decerto, deliciar-se com alguns easter eggs, cameos inesperados que dão mais um charme à obra. Aliás, os fãs serão mesmo os grandes apreciadores – o filme é para eles. 

Rogue One: Uma História de Star Wars tem um tom mais maduro e menos airoso do que qualquer outra obra da saga, consistindo mais num filme de guerra. Apesar de não conseguir suplantar-se ao recente Star Wars: O Despertar da Força, que encerrava em si uma maior abrangência narrativa e carisma, esta tentativa de fugir da linha canónica intergaláctica é uma boa surpresa e a prova de que talvez ainda haja muitas boas histórias para contar, numa série que chegou ao Cinema há já quase quatro décadas. Afinal de contas, a Força ainda tem truques na manga. 

(Crítica publicada na Metropolis)