«Joy»

Ao acabarmos de ver Joy (2015), ficamos com uma sensação de alegria q.b., de algo pouco coeso e que nunca chega a deslumbrar por completo. Na obra, ficamos a conhecer a história de Joy (Jennifer Lawrence), uma mulher lutadora e que ultrapassa inúmeros obstáculos para conseguir provar a forçar do seu talento: uma criatividade ímpar, “um poder especial”, que lhe faz ter ideias inovadoras, como uma esfregona muito particular. Ao longo do filme, deparamo-nos com as diferentes “montanhas” que Joy tem de derrubar para chegar ao seu objetivo, começando pela sua família que a sobrecarrega e não acredita nela, os problemas financeiros, mas, sobretudo, a falta de confiança em si própria.

Assistir ao crescimento da personagem e a sua mudança para consigo mesma acabam por ser os aspetos do argumento mais interessante, mas tudo o resto se escapa. Tudo se centra em Joy e as personagens secundárias apenas orbitam à sua volta, não acrescentando muito ao cômputo geral. E é neste sentido que vemos algum talento desperdiçado, como acontece com Bradley Cooper e Robert DeNiro. Tal como o início do filme preconiza, não se trata apenas e unicamente da história de Joy, mas de um conjunto de várias mulheres corajosas e inspiradoras – uma delas a própria Jennifer Lawrence, segundo palavras do argumentista e realizador da obra, David O. Russell. Neste filme, o cineasta sai-se muito melhor no papel de realizador, conseguindo belos momentos, com enquadramentos criativos e engenhosos, que engrandecem o talento da protagonista. Quanto ao argumento, ficamos algo desiludidos, até porque sabemos do especial trato que O. Russell consegue dar às emoções, como no formidável Guia para um Final Feliz (2012, crítica aqui). Joy também é feito de emoções, mas estas não tiveram a merecida atenção.

Jennifer Lawrence em Joy. Foto: washingtonpost.com.
Jennifer Lawrence é uma atriz em estado de graça e, por vezes, até sentimos que ainda não vimos o melhor dela, conseguindo neste novo filme um desempenho irrepreensível e exemplar. É por ela que o filme se salva, pelas suas nuances dramáticas, pela forma como se entrega à personagem e, sobretudo, pela forma como a entende. Lawrence consegue perceber o âmago das suas personagens como poucos, o que faz com que a atriz consiga arrancar o melhor que elas têm para dar.

A obra assenta numa história de alguém profundamente inspirador e, neste aspeto, não poderia estar mais bem conseguido. Joy vale pela sua protagonista e pela singularidade da história que conta, mas contávamos sair com mais algum rejúbilo da sala de cinema…

(Crítica originalmente publicada na edição de fevereiro de 2015 da revista Metropolis)