'Grand Budapest Hotel' - a genialidade tem muita cor

Grand Budapest Hotel (2014) é uma obra doce, temperada por salpicos de cor, emoção e saliências interpretativas, numa sobremesa deliciosa e inesquecível. A história começa por ser contada por um velho escritor (interpretado por Tom Wilkinson), que narra o tempo que passou num hotel renomado e muito invulgar, numa experiência que viria a mudar a sua restante existência. Foi lá que conheceu M. Gustave (Ralph Fiennes), o concierge do hotel, e Zero (Tony Revolori), um jovem paquete. Desenvolve-se entre ambos uma amizade profícua em divertidos e perigosos momentos, após Gustave receber uma herança de uma senhora rica. O argumento é bem mais do que isto, pois trata-se de uma história dentro de uma história, mas fiquemo-nos por aqui para que o leitor usufrua do desenvolver da narrativa sem revelações antecipadas. Este emaranhar de histórias é ainda muito fluido, não havendo espaço para confusões ou equívocos. Falta, contudo, algum espaço à reflexão, mas há outros elementos que se relevam na obra.

Paul Schlase, Tony Revolori, Tilda Swinton e Ralph Fiennes em Grand Budapest Hotel. Foto: Out Now.
Há já muito a percorrer a fronteira da genialidade - como já se tinha notado em Moonrise Kingdom (2012, crítica aqui) -, Wes Anderson supera-se nesta obra, criando um filme pejado de iridiscência narrativa e visual. Amante da simetria, esta é bem notada em toda a acção. Além disso, denota-se uma narrativa ritmada e empolgante, sem deixar pontas soltas. A fotografia é outro dos aspectos que sobressaem, bem como a direcção artística, possivelmente uma das melhores dos últimos anos. A banda-sonora é também ela um óptimo complemento à obra, ajudando ao incrementar da narrativa. 

Um dos pontos fortes da obra é a qualidade das interpretações dos actores, sobretudo quando se trata dos dois protagonistas: Fiennes e Revolori. O primeiro desdobra-se em nuances dramáticas, atrevidas e divertidas, enquanto o segundo preenche a obra de uma doce ingenuidade, encantando-nos de imediato. Destaque ainda para Saoirse Ronan que, embora num papel algo secundário, consegue ganhar algum brilho, atribuindo bastante carisma à corajosa jovem que interpreta. Com um elenco de luxo, há também a salientar a dupla de Adrien Brody e Willem Dafoe, que está muito bem conseguida.

Tony Revolori e Saiorse Ronan em Grand Budapest Hotel. Foto: Out Now.
Grand Budapest Hotel é um festival de emoções e cor para os olhos, mas é também uma bela história, que decerto agradará à maior parte das faixas etárias. É uma obra única de Wes Anderson, com personagens igualmente únicas, muito diferentes entre si, que prendem o espectador à narrativa. Grand Budapest Hotel faz-nos sonhar e viajar para aquele hotel muito peculiar, com histórias muito especiais, numa obra incomparável.