«Perto Demais»

A verdade e o poder do seu alcance. O que somos capazes de fazer para descobri-la e se somos ou não capazes de lidar com ela. Esta é a tónica de Perto Demais (2004), um filme intimista e profundo, sem rodeios e sem tabus, que nos deixa a reflectir bem depois dos créditos finais. Baseado numa peça de teatro, o filme tem pelas mãos de Mike Nichols uma poderosa mensagem, através de apenas quatro personagens, mas que enchem a história de riqueza dramática e reflexiva.

Jude Law e Julia Roberts em Perto Demais. Foto: Out Now
A entrega dos papéis é certeira, com destaque para Clive Owen (que tinha interpretado a outra personagem masculina no teatro) e a soberba Natalie Portman, aqui ainda a tornar-se numa revelação para muitos. Foi, aliás, com este papel que conseguiu a nomeação para o Óscar de Melhor Actriz Secundária. A sua Alice é rica em nuances expressivas e dramáticas, algo que a actriz conseguiu transpor para a tela de forma inteligente e eficaz, tornando-se na pérola do filme, com verdadeira riqueza icónica. Jude Law e Julia Roberts abrilhantam ainda mais o leque de actores.

Natalie Portman em Perto Demais. Foto: NataliePortman.com

A profundidade interpretativa e narrativa de Perto Demais mostra que não são precisos efeitos especiais ou subterfúgios para criar um drama poderoso, com destaque ainda para a banda sonora, que é fabulosa. A realização crua de Mike Nichols revela tudo, sem mostrar quase nada. Enquanto algumas personagens evitam a verdade, outros só descansam quando a encontram, intoxicando-se com a sua dimensão, ficando realmente perto demais, irreversivelmente.




Curiosidade: Até este filme, Natalie Portman tinha uma voz quase infantil, até que Mike Nichols aconselhou a actriz a trabalhar mais neste aspecto, cujas mudanças são visíveis nos filmes posteriores da sua carreira. Contudo, em Cisne Negro (2010), Natalie Portman teve de fazer o trabalho inverso, já que a personagem era mais nova do que a actriz.