«O Impossível» - Drama em doses industriais

O Impossível (The Impossible, 2012) conta-nos a história (verídica) de uma família sobrevivente ao maremoto de 2004 na Tailândia através de dois pontos de vista que, a determinada altura, se unem e tornam-se num só. A história, inicialmente, divide-se entre o acompanhamento do processo de sobrevivência da mãe (Maria, Naomi Watts, nomeada para o Oscar de Melhor Actriz por este papel) e do filho mais velho (Lucas, Tom Holland) e, depois, do pai (Henry, Ewan McGregor) e dos dois filhos mais novos (Thomas, Samuel Joslin; e Simon, Oaklee Pendergast).

Em jeito de sinopse, a história contada pelo realizador espanhol Juan Antonio Bayona não é, na sua base, muito mais do que isto. Esta história de vida, que se passou com uma família espanhola, é aqui adaptada para ter algumas caras mais conhecidas do público para poder dar um outro protagonismo ao filme (já que também toda a produção é espanhola).
Tom Holland (Lucas) em O Impossível. Foto: Telecinco Cinema e Apaches Entertainment [LaButaca.net]
Ao contrário do que poderia ter acontecido, o filme não seguiu o rumo da acção e aventura, directamente relacionadas com um processo de sobrevivência como o que aqui é retratado. Seguiu, sim, por um caminho bem mais dramático (há quem o caracterize como "piegas" e "lamechas") e de exploração de toda a componente humana de um acontecimento destes. Fugindo, portanto, de todos os elementos relacionados com a sobrevivência em si, destacam - com grande qualidade - o drama e a emotividade de uma história pungente, transportando o espectador para aquela realidade e para aquelas emoções.

O risco de vida de uma determinada pessoa (com maior intensidade para Maria e Lucas), associado à incerteza inerente ao desaparecimento de familiares próximos, dão uma carga dramática absolutamente estonteante e emocionante a este filme. Naomi Watts, com um papel muito bem conseguido na sua interpretação de uma mãe de família que se vê na situação de querer ajudar e ser ajudada pelo seu próprio filho, de certa forma "encabeça" esta família.

No entanto - e o meu destaque vai inteiramente para este aspecto -, é o jovem Lucas (interpretado magistralmente por Tom Holland, de apenas 13 anos!) quem se sobressai neste filme. É-me, aliás, estranho que tenha sido Naomi Watts a ter direito a uma nomeação para o Oscar e não tenha sido considerado o jovem Holland, bem mais merecedor de tal distinção.

Relativamente à realização, temos perante nós um filme extremamente bem feito, com uma forte componente visual (com uma quase-beleza que chega a ser arrepiante) e com cenas referentes ao processo de sobrevivência (especialmente no par Maria/Lucas) extremamente bem montadas e que transmitem, no mínimo, uma ínfima parte do sofrimento, do pânico e das dificuldades por quem passou por situações semelhantes.

Em resumo: um filme forte, nada fácil de ver e digerir para pessoas mais sensíveis, tamanha é a carga emocional imposta pela realização e pela interpretação de uma família que teve um destino que muitos não terão tido.