'O Outro Lado do Coração', um drama sem doçura

O Outro Lado do Coração (Rabbit Hole, 2010) é um filme duro e difícil de assistir. Consiste num puro drama, com poucos momentos leves, apesar de também existirem, construindo-se, assim, de forma fluída, uma história forte, mas com alguns momentos de relaxamento para o espectador. Toda a obra desenvolve-se a partir de um momento que, curiosamente, é pouco visto: a morte do filho de um casal. Becca e Howie Corbett (Nicole Kidman e Aaron Eckhart) são um casal feliz até que o seu pequeno filho morre num trágico atropelamento. Ambos tentam agora sobreviver ao sucedido e regressar à sua vida normal e o filme mostra as dificuldades disso mesmo.

Nicole Kidman e Aaron Eckhart em O Outro Lado do Coração. Foto: Out Now.

O grande trunfo da fita são as performances dos actores, que dão alma à narrativa. Aaron Eckhart é sublime nas emoções contidas de um pai que se sente impotente perante a tragédia e que deixa de saber como lidar com a mulher. Dianne West interpreta a mãe da personagem de Nicole Kidman, retratando uma progenitora incompreendida pela filha, a quem só tenta ajudar o mais que pode (a personagem também perdeu um filho anos antes). Mas Nicole Kidman é mesmo o grande destaque do filme, não tendo sido à toa que foi nomeada para Melhor Actriz por este papel. Também Becca tenta conter-se e não mostrar muito a dor que sofre, entrando ainda em contacto com o jovem que matou o seu filho involuntariamente. Além disso, é profundamente céptica, o que acaba por render boas cenas reflexivas.

Nicole Kidman em O Outro Lado do Coração. Foto: kinobank.org.

Adaptado de uma peça, tal reflecte-se claramente no número pequeno de personagens e na utilização de cenários mais interiores. Com isto, os diálogos ganham também muita importância, o que enriquece a obra. A narrativa de O Outro Lado do Coração é pesada e crua, mas contida. Não se trata, de todo, de um melodrama, o que só abona a favor do filme. Ainda assim, podia pedir-se mais alguma criatividade por parte da realização de John Cameron Mitchell e até da banda sonora, aspectos que foram pouco cuidados. Assim, não será uma obra-prima, mas não deixa de ser comovente e profundamente reflexiva.