'A Duquesa' e imperatriz da moda

Um deslumbre de dramas sufocados e inflamados de emoções à flor da pele. A Duquesa (2008), realizado por Saul Dibb, é feito de subtilezas e sentimentos escondidos, tanto quanto possível... A obra aborda a vida de uma das aristocratas britânicas mais influentes do século XVIII, Georgiana Spencer, a Duquesa de Devonshire (Keira Knightley) que impressionou pela sua vida política e extravagante vertente pessoal. Ainda nova, Georgiana casa-se com o Duque de Devonshire (Ralph Fiennes), tendo uma única missão: dar um herdeiro ao marido. Contudo, tal tarefa acaba por demorar a ser concluída, já que a Duquesa vai dando à luz meninas, para profundo desagrado do Duque. Entretanto, este não se coíbe de passar o tempo com outras mulheres, uma delas a sua amiga, que viria a tornar-se sua amante, partilhando a casa com os Duques. A Duquesa desilude-se com o passar do tempo, já que aquilo que esperava do casamento acaba por não concretizar-se, passando a procurar outros modos de ser feliz.

Ralph Fiennes, Keira Knightley e Hayley Atwell em A Duquesa. Foto: Out Now.

A realização é interessante e fluída, mas pouco criativa. A Duquesa é também um belo e cuidado retrato de época. Para tal, contribui também um guarda-roupa exuberante e detalhado, não sendo à toa que a obra tenha vencido o Óscar para Melhor Guarda-Roupa em 2009. Sendo que se trata de um retrato da que foi considerada a "Imperatriz da Moda", era de prever que este fosse um dos aspectos tratados de forma mais pormenorizada e cuidada. A fotografia é também um dos pontos relevantes do filme, sendo majestosa e esplendorosa.

O argumento é, contudo, algo previsível, o que não é totalmente criticável, já que se trata de um filme verídico. Ainda assim, toda a acção é desenvolvida de forma demasiado célere, os momentos vão-se sucedendo, sem muita complexidade e profundidade narrativa e dramática.

Dominic Cooper e Keira Knightley em A Duquesa. Foto: Out Now.

O elenco é convincente, não deixando a desejar, apesar de não haver nenhuma interpretação transcendente. Ainda assim, Keira Knightley agarra de forma veemente e verossímil a sua personagem. Aliás, a actriz britânica tem, cada vez mais, a sua carreira marcada por filmes de época, como aconteceu com Orgulho e Preconceito (2005), Expiação (2007), a saga Piratas das Caraíbas e até o mais recente Anna Karenina (2012).

Keira Knightley em A Duquesa. Foto: Out Now.

A Duquesa é como uma metáfora da liberdade, ou melhor, da falta dela, tal como se deixa prever logo no início do filme, quando a protagonista fala sobre o tema. Toda a narrativa baseia-se nisso, naquilo que a falta de liberdade de sentimentos e decisões pode causar, sendo o sofrimento e a intolerância consequências inerentes. Georgiana tenta viver à parte disso, mostrando ser uma mulher à frente do seu tempo, demasiado liberal e com poucas armas para poder viver da forma como realmente desejaria, esperando por um futuro diferente. A Duquesa é interessante pelo modo como aborda a história da vida da protagonista, mas poderia ter investido mais numa melhor contextualização da época, tão rica e desafiante.