«O Substituto»

O primeiro dia de aulas nem sempre é fácil, nem mesmo para os professores. Ou melhor, em alguns casos sobretudo para os professores… O Substituto (2011) mostra-nos as dificuldades por que passam os que têm a sala de aula como um palco eterno. Numa realização intimista e detalhista, Tony Kaye faz um retrato sombrio do que é ser professor nos dias de hoje. Com uma abordagem documental e testemunhos sentidos de professores, Adrien Brody, que interpreta o protagonista Henry Barthes, embrenha-se também neste panorama, como se sempre tivesse feito parte dele. Aliás, o cinema já sentia falta de voltar a ver um Brody digno do Oscar de Melhor Actor que recebeu em 2003, pelo soberbo O Pianista (2002). A sua personagem deambula pelas lembranças cruas do passado e o presente amargurado, coberto pela neblina da falta de esperança no futuro. O horror diário entranha-se no protagonista aparentemente inabalável, mas permanentemente marcado pelas suas vivências.

Adrien Brody em O Substituto. Foto: Cinemagia.ro.
“O senso de humor é a chave”, como diz a certa altura o protagonista, apesar de ser uma das coisas que mais lhe faz falta … a ele e a praticamente quase todos os outros na história. São a representação de professores alheados da sua própria vida, que se abandonam a si próprios para dar lugar a pessoas inexoráveis, que sorriem quando só a tristeza impera e controlam a raiva quando a ira é mais do que apetecível. Henry Barthes consegue mais do que isso: cria uma conexão verdadeira com os alunos, acabando por conquistá-los, apesar das suas resistências. Contudo, ele não passa de um professor substituto, provisório, que logo acabará por findar as suas funções…

Com uma narrativa viva e encadeada, que faz com que o espectador tenha vontade de acompanhar a história e saber todos os seus contornos, O Substituto não perde o rumo em nenhum momento, tendo o testemunho emocionado do protagonista como guia. O filme aborda ainda a depressão juvenil e a prostituição, de um modo sombrio, mas real, sem receios de chocar. Não é uma obra perfeita, mas não deixa de ser um murro no estômago. Além disso, relativiza filmes como Mentes Perigosas (1995), abordando de forma menos encantada a temática dos docentes com dificuldades em exercer a sua profissão. Henry Barthes acaba por ser a personificação de uma classe, mas também da sociedade actual, reprimida e instável, com pouca (ou nenhuma) esperança no futuro.

(Crítica publicada na revista Metropolis de Novembro de 2012: http://www.cinemametropolis.com)