Ao fim de cinco anos de pausa na realização e escrita de argumentos, o autor de obras como Missão Impossível (1996), A Força do Poder (1983) ou Os Intocáveis (1987), Brian de Palma, regressa à actividade em ambas as áreas de trabalho com este Paixão (2012), baseado num filme francês de 2010, Crime d'Amour, de Alain Corneau.
Não sendo este um filme extremamente popular, para que se o descubra será necessário haver um interesse espevitado pelo facto de estar em cartaz. Para o conhecer melhor e, em seguida, decidir vê-lo ou não, procurar conhecer as bases (trailer e sinopse) do filme será essencial. Pois bem, para este Paixão, que terá passado um pouco ao lado do público - apesar do renomado realizador e de um elenco com alguns nomes de relevo como Rachel McAdams e Noomi Rapace -, nada melhor do que procurar um pouco mais para lá do trailer - que pouco ou nada diz da estória, sendo, na verdade, uma imagem global bastante enganadora de todo o filme. Vejamos, então, uma sinopse, no caso a que nos apresenta o Cinecartaz, do Público:
Isabelle e Christine (Noomi Rapace e Rachel McAdams) têm cargos de topo numa multinacional. Isabelle sente um fascínio mórbido por Christine que, aproveitando-se da circunstância, inicia um jogo de sedução e dominação, dentro e fora do escritório. Porém, quando a primeira acaba na cama com um dos amantes da amiga, dá-se início a uma guerra que as empurrará até aos limites da moralidade, onde o controlo troca de mãos e as faz seguir em direcção ao abismo.
Pronto, é isto. Tudo o que se possa imaginar que o filme possa ser para além desta meia-dúzia de linhas é para esquecer. Não é mais do que ali está nem menos. Não, minto. O "jogo de sedução" é praticamente nulo assim como a definição - que lhe é atribuída de forma generalizada - de "thriller erótico" é tremendamente exagerada. Como alguém já disse, e bem, de erótico este filme terá apenas e só um vibrador sacado de uma gaveta.
Esqueça-se a definição de thriller no sentido mais impactante que lhe possamos atribuir por influência de grandes títulos do género. É previsível, sem estória verdadeiramente palpável e apelativa, tornando-se divertidamente absurdo e aborrecido. O argumento tem pouco que se lhe diga, restando, para o final, uma palpitação maior em virtude de uma realização relativamente bem conseguida, de inspiração, diria, clássica do realizador.
Numa estória com tantas trocas e baldrocas destaca-se a ginástica argumentativa para fazer encaixar todas as sequências de engano do espectador. Se funcionam ou não, caberá a cada um de nós e de vós responder, tratando-se, acima de tudo, de se perceber o quão ingénuos cinematograficamente seremos. Se o formos, este poderá, eventualmente, ser um bom filme. Caso isso não seja verdade, torna-se complicado gostar desta obra de Brian de Palma.
Para finalizar, deixo a frase que penso ajustar-se melhor numa rápida sinopse para este filme e, ao mesmo tempo, para se perceber melhor a sua lógica narrativa. Assumindo a letra de Paixão, um dos maiores singles da banda portuguesa Heróis do Mar, este filme resume-se assim: "Paixão, não vais fugir de mim / Serás paixão até ao fim". Se tiverem a infelicidade de se cruzarem com este filme, nunca esqueçam esta frase.