Animais Noturnos (2016) é um elegante e provocador thriller, que nos prende na sua rede de sub-tramas entrelaçadas. Susan Morrow (Amy Adams) é uma bem-sucedida negociadora de arte, mas sente-se vazia. Entretanto, recebe um romance, escrito pelo seu ex-marido Edward Sheffield (Jake Gyllenhaal), com quem já não tem qualquer contacto. O livro é dedicado a Susan e é muito violento e emocionalmente devastador, o que Susan interpreta como uma vingança simbólica, numa leitura que a obriga a enfrentar o seu passado e as escolhas que a levaram até a vida que hoje tem, bem como à própria relação que manteve com o autor.
Jake Gyllenhaal em Animais Noturnos. Foto: cine.gr.
Tom Ford é um esteta na forma e no conteúdo, providenciando um filme bem estruturado, que consegue apresentar, de forma pertinente e harmoniosa, diferentes momentos de uma mesma história, para que se consiga construir uma melhor construção da identidade da protagonista. O cineasta também assina o argumento, a partir do romance “Tony and Susan”, de Austin Wright, conseguindo descomplicar no grande ecrã uma narrativa que poderia ficar confusa, realçando-se uma montagem acertada de Joan Sobel em alternar as histórias de uma forma suave e cadenciada. Destaca-se ainda em Animais Noturnos uma fotografia sagaz e intimista, assinada por Seamus McGarvey, bem como uma banda-sonora de Abel Korzeniowski que imprime o tom certo na altura certa.
O elenco da obra é fastuoso, encabeçado pela interpretação sensível e minuciosa de Amy Adams e um Jake Gyllenhaal no fio da navalha, roubando todas as cenas. Ao longo do filme, assistimos ainda a um desfile de nomes como Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson, Laura Linney, Michael Sheen, Armie Hammer e Isla Fisher, em que os dois primeiros têm mais espaço para explorar um maior espectro dramático, garantindo desempenhos vistosos.
Com uma história dentro da história, Ford constrói um thriller obsessivo com algum grau de introspeção e um clima de tensão latente, alternando entre cenas de brutalidade e cenários artisticamente arrojados e ostensivos, num paradoxo metafórico da própria protagonista. Tal como diz o ditado, “a vingança é um prato que se serve frio”, e, neste caso, absolutamente gelado.
(Crítica originalmente publicada no site da Metropolis)