«O Clube de Dallas»

Profundo, mas sem melodrama. Duro e cruel, mas sem lamechices. É assim O Clube de Dallas (2013), que mostra a crueza da Sida e do preconceito que sofre o portador da doença, sobretudo quando ainda pouco se sabia sobre a mesma, na década de 1980. Este drama biográfico passa-se nos EUA, em 1985, contando a história de Ron Woodroof (Matthew McConaughey), um cowboy a quem foi diagnosticado o vírus VIH/Sida e dado 30 dias de vida. Inicialmente, passa por um período de total negação da doença, até que começa a ser tratado com o anti-viral AZT, o único medicamento autorizado, mas que acaba por quase conduzi-lo à morte. É aí que decide procurar métodos alternativos de tratamento, mesmo que seja noutras partes do mundo e que esses medicamentos sejam considerados ilegais nos EUA. E foi assim que Ron criou o Clube de Dallas, que tinha como objectivo fornecer os mesmos medicamentos para outras pessoas nas mesmas condições, contando para isso com a ajuda da sua médica, Dra. Eve Saks (Jennifer Garner) e de Rayon (Jared Leto), um travesti também infectado. Este último acabará por mudar o modo como o homofóbico Ron encara a vida e os que o rodeiam. O sucesso do Clube não pára de crescer, fazendo com que as companhias farmacêuticas olhem para o mesmo como uma ameaça para o seu império.

Jared Leto e Matthew McConaughey em O Clube de Dallas. Foto: Out Now.

Matthew McConaughey e Jared Leto são a alma do filme, acompanhados, todavia, por uma pouco chamativa Jennifer Garner. Ambos os actores masculinos transformaram-se completamente para estas personagens, ficando quase irreconhecíveis. McConaughey tem aqui, sem qualquer dúvida, a melhor interpretação da sua carreira, revelando que pode ser bem mais do que um sex-symbol. O actor é vigoroso, dramático no tom certo, sarcástico, sem apelar ao drama fácil e exaltando uma postura guerreira, confiante e frontal, à altura do que a personagem exigia. Leto é magnetizante, tendo uma presença irremediavelmente marcante na obra, com várias nuances dramáticas. Só se lamenta que a personagem não tenha uma importância na história mais preponderante.

Matthew McConaughey em O Clube de Dallas. Foto: Out Now.

A narrativa não é muito cativante, não deixando o espectador preso ao ecrã, como poderia se tivesse tido, quiçá, outra montagem. Outros aspectos como a banda-sonora ou a fotografia também não estão muito cuidados, tal como a realização de Jean-Marc Vallée, que não é muito inventiva. Não obstante, o tema central de O Clube de Dallas é duro e assustador, conseguindo o filme mostrar as várias fases da doença. Mas a obra fala muito mais de esperança e coragem do que de sensacionalismo melodramático. É, por isso, um filme quase obrigatório, por enveredar por um caminho dramatúrgico menos fácil, além de interpretações absolutamente únicas e imperdíveis.