«Gangster Squad» - Tanto talento desperdiçado

Força Anti-Crime (2013) é apenas mais um exemplo de um filme que tem tudo para ser um grande filme mas que acaba por ficar bastante abaixo das expectativas. Olhando para a concretização, o produto final, é notório que tem qualidades visuais bastante apelativas, com uma construção de cenários, fotografia e cores interessante. Mesmo antes de ver o filme, analisando o elenco, tinha tudo para ser marcante. Os já veteranos Sean Penn e Nick Nolte, juntamente com Josh Brolin ou as estrelas mais novas Ryan Gosling e Emma Stone, faziam elevar bastante as expectativas à volta deste filme. Assim não aconteceu.

Imagem promocional de Força Anti-Crime. Foto: Beyond Hollywood.

Da responsabilidade do realizador Ruben Fleischer (ainda novo mas conhecido por Bem-Vindo à Zombieland, de 2009), Força Anti-Crime conta a história (verídica, segundo dizem) de um grupo de polícias que tenta acabar com Mickey Cohen (Sean Penn), o maior "mafioso" de Los Angeles no final da década de 1940. Organizado pelo Sargento John O'Mara (Josh Brolin) sob ordens superiores na hierarquia da Polícia de Los Angeles, o grupo, sem se identificarem como polícias, actua mais como uma milícia armada com o intuito de derrubar o "império" de Cohen. A ideia até é interessante, fugindo, de certo modo, aos padrões dos filmes de gangsters, que tendem a contar a história dos vilões e não tanto a de quem combate o crime.

Acontece que, na prática, isso não acontece. É verdade que o ênfase está todo nos "bons" mas sem qualquer tipo de desenvolvimento do argumento por esse caminho. É um mero filme de acção, com demasiadas tiradas humorísticas e constantes cenas de tiroteio. Não existe qualquer densidade no argumento, as personagens limitam-se a existir e a cumprir o objectivo traçado, com a excepção do dilema/drama (pouco explorado, mais uma vez) familiar de O'Mara.

Força Anti-Crime acaba, portanto, por desiludir logo ao nível da história que se está a contar. Com um argumento extremamente frágil e pouco interessante, a história desenrola-se demasiado rápido, não deixando o filme "respirar" entre cenas e diferentes situações. Nota-se que, no caso de existir um argumento mais cuidado e mais desenvolvido, a história que serve de base para este filme poderia, perfeitamente, ser adaptada para o contexto de uma série televisiva. Aí, sim, ter-se-iam o tempo e o espaço necessários para se contar esta narrativa de forma mais adequada e apelativa.

Ryan Gosling, Michael Peña, Robert Patrick, Josh Brolin e Anthony Mackie em Força Anti-Crime. Foto: Beyond Hollywood.

Ao nível da realização, a desilusão fica-se a metade. Não sendo um trabalho extraordinário, acaba por ficar-se na linha da competência. Fleischer apresenta alguns pormenores interessantes, como a fotografia, a estruturação entre cenários e cores e, em certos momentos, a forma como apresenta as cenas de acção (acima de tudo, os tiroteios). Fica a ideia de que poderiam ter feito mais a este nível mas não é o pior do filme.

Sobre o elenco, a melhor palavra a utilizar é "desperdício". Com tanto talento, tantos nomes conceituados e tanta gente que chama, praticamente por si só, muita gente ao cinema, perdeu-se uma excelente oportunidade para fazer isso mesmo: "cinema". À falta de um argumento à altura, é uma pena ver, de uma forma quase perdida e desconfortável, tanta gente com tão pouco por dizer e por ser. Limitam-se a estar e a cumprir, quase de forma autómata, os mandamentos de um qualquer filme de acção.

Sean Penn, o vilão Mickey Cohen em Força Anti-Crime. Foto: Beyond Hollywood.

Ao contrário de outros filmes que abordam a máfia e os gangsters norte-americanos, Força Anti-Crime não apresenta nem a carga dramática nem a capacidade para contar, verdadeiramente, os meandros desse mundo. De tão recheado de lugares-comuns dos filmes de acção que é, não passa de um irrealista (apesar do cunho de "história verídica") filme de acção a roçar a banalidade. Não tem a capacidade de agarrar o espectador e de o transportar para o contexto que está a abordar, mas apesar disso, com uma história tão linear, é fácil de acompanhar e, apesar das quase duas horas de filme, não distrai.