«Até Ver a Luz»

Até Ver a Luz (2013) é uma viagem entre o real e a ficção, mas sem margem para o sonho, aqui é tudo demasiado sombrio. A primeira longa-metragem de Basil da Cunha impressiona pela crueza do seu retrato, aspecto que se reflecte em tudo: no argumento implacável, na fotografia obscura e na narrativa documental.

A obra conta a história de Sombra, oriundo do Bairro da Reboleira, que regressa após algum tempo na prisão, pronto para voltar a integrar-se no seu inflexível grupo de amigos, assumindo, de novo, o seu habitual papel de dealer. Os diálogos são em crioulo, uma escolha inteligente que ajuda a mostrar com maior verosimilhança a história, que é ficcional, mas contada de forma documental, com actores não-profissionais, provenientes também do bairro, incrementando, assim, a dimensão mais genuína do filme.

O ritmo da obra é lento e detalhado, demorado no modo como desenha as personagens e a narrativa. A luminosidade tarda a chegar em Até Ver a Luz e, mesmo quando chega, é nebulosa e devastadora, num retrato difícil – mas verdadeiro – de uma parte da sociedade.

(Crítica originalmente publicada na revista Metropolis de Setembro de 2013).

Imagem do filme Até Ver a Luz. Foto: live.orange.com.