«Obediência» a quanto obrigas

Nem sempre quem está do outro lado da linha é quem diz realmente ser e, nesse caso, obedecer poderá não ser o melhor caminho… 

Num dia especialmente atarefado de um restaurante de fast-food, um homem liga e identifica-se como polícia, acusando uma das funcionárias de ter roubado uma cliente naquele dia. Sandra (Ann Dowd), a gerente, não duvida da veracidade da chamada e obedece a tudo a que o homem diz. Mas não é a única. Alguns limites serão ultrapassados. As consequências: impensáveis. Por sua vez, o medo faz com que Becky (Dreama Walker), a funcionária de 19 anos, obedeça a tudo, apesar da sua renitência, num desenrolar de acontecimentos inacreditáveis. Mais tarde no filme, o espectador percebe quem é a pessoa que dá as ordens e pode surpreender-se com o seu modus operandi

Dreama Waker em Obediência. Foto: Out Now.

Obediência (2012) é um filme difícil de assistir, parece pouco verosímil de tão non-sense que acaba por ser, mas a verdade é que é baseado em factos reais, o que torna tudo ainda mais perturbador. Aliás, foram reportados mais de 70 casos semelhantes a este nos EUA, um número chocante, sobretudo ao conhecer-se os contornos da história. Craig Zobel, realizador e argumentista, tem um trabalho esmerado, impressionando pela construção de uma narrativa bem encadeada, prendendo o espectador. Os seus planos criativos e pertinentes tornam-se noutro dos trunfos da obra. A fotografia é mais um aspecto bem conseguido, apesar de não ser especialmente inovadora e surpreendente. Já a banda-sonora é um dos factores menos trabalhados, o que é de lamentar, pois poderia ter ajudado a incrementar o clima de medo e tensão que é retratado ao longo da obra. Quanto ao trabalho de representação, a actriz que interpreta Sandra, a gerente algo atrapalhada mas nada céptica, é a alma do filme. Todos os outros actores convencem, mas não brilham particularmente, sobretudo a protagonista, que poderia ter tido uma interpretação mais segura e profunda.

Ann Dowd e Dreama Walker em Obediência. Foto: Out Now.

Numa demonstração da ingenuidade e fraqueza humanas, Obediência mostra o poder que a noção de autoridade pode ter no ser humano que acredita – com poucas dúvidas – no que lhe mandam fazer, sem questionar. Desconfortável mas também com potencial pedagógico, a obra está bem construída, mostrando uma crença irreflectida e o poder do medo perante as consequências de não obedecer a determinada ordem. Obediência é um murro no estômago, uma história invulgar e penetrante que, decerto, ficará na memória de quem a vir.

(Crítica publicada na revista Metropolis de Março de 2014: cinemametropolis.com)