'A Gaiola Dourada'

Sim, é possível fazer bons filmes considerados 'populares'. A Gaiola Dourada (2013), do realizador luso-francês Ruben Alves, prova-nos isso mesmo, algo que parece ser esquecido na maioria dos filmes portugueses. A obra é uma comédia de costumes, despretensiosa, mas encantadora, sem deixar de ser algo reflexiva.

Maria (Rita Blanco) e José Ribeiro (Joaquim de Almeida) são um casal de portugueses emigrados na França há já algumas décadas, sendo queridos por todos à sua volta, pela sua humildade, simpatia e disponibilidade permanente para ajudar os outros no que for preciso. Entretanto, o casal recebe uma herança que poderá realizar o seu sonho de sempre: regressar a Portugal, o seu querido país. Contudo, tal poderá ser mais difícil do que poderia parecer, pois ninguém parece querer abdicar da companhia do casal e vão haver muitos obstáculos ao regresso dos emigrantes.

Chantal Lauby, Roland Giraud, Joaquim de Almeida e Rita Blanco em A Gaiola Dourada. Foto: www.onrembobine.fr.

A história é simples e descomplicada, não se tratando de uma narrativa com prolepses ou analepses, twists vários e grandes surpresas. Ainda assim, é um retrato terno e algo comovente da vida de um emigrante, que, a partir de certa altura passa a ter um sentimento paradoxal: o desejo enorme de voltar para o seu país e o medo de deixar a segurança e conforto no seu novo país, a tal "gaiola dourada". A obra é cheia de clichés e estereótipos, mas muitos deles inevitáveis, como as referências aos gostos típicos dos portugueses: o fado, o futebol ou o bacalhau. A realização de Ruben Alves não é particularmente criativa ou inovadora, mas mostra segurança na representação dos protagonistas. Ele próprio é filho de emigrantes portugueses, o que se nota na obra, que está embrenhada das raízes do argumentista e realizador. Aliás, o filme é dedicado aos pais do cineasta.

Cena de A Gaiola Dourada. Foto: premiere.fr.

O elenco é extraordinário e a verdadeira alma do filme, sem a qual o resultado final não teria tanto encanto. Destaque para a sempre brilhante Rita Blanco, que enche a tela com o seu talento em cada cena e ainda Chantal Lauby que tem uma personagem muito divertida, numa interpretação fantástica da actriz. E, claro, é necessário realçar a participação especial de Catarina Wallenstein, que canta - maravilhosamente bem - um belo fado, num dos momentos altos do filme e, provavelmente, o mais comovente de todos.

Rita Blanco em A Gaiola Dourada. Foto: jiphel.wordpress.com.

A Gaiola Dourada é um filme simples, mas não simplista, nem redutor, apesar dos seus estereótipos. Não tem planos extraordinários, nem um argumento retumbante ou uma fotografia excepcional. Mas impressiona pela beleza da sua narrativa envolvente, tão portuguesa, mas que também pode ser transposta para alguns dos problemas por que pode passar qualquer emigrante. Brilhante na sua simplicidade e graciosidade, A Gaiola Dourada é um dos melhores filmes com produção portuguesa dos últimos tempos.