«00:30 A Hora Negra» - Talvez seja cedo de mais

Estreou esta quinta-feira, em Portugal, 00:30 A Hora Negra (Zero Dark Thirty, no nome original), o filme que conta a história (alargada, com início em 2003) da procura e captura/morte de Osama bin Laden. Da oscarizada Kathryn Bigelow (Estado de Guerra; The Hurt Locker, 2008), soma algumas nomeações para alguns dos prémios mais importantes do cinema (5 para os Oscars, por exemplo) e já arrecadou o Globo de Ouro para Melhor Actriz em Drama, entregue a Jessica Chastain pela sua (fictícia, numa história verídica) Maya.

Jessica Chastain (Maya) em 00:30 A Hora Negra. Foto: Universal Pictures [imagenes-de-peliculas.labutaca.net]

Vamos por partes. Cinematograficamente falando, é um bom filme, visualmente apelativo mas sem maravilhar. Não entra nos campos que dizem respeito a um filme de acção típico, com explosões e ritmo alucinante nos momentos de confronto, talvez porque não seja, de facto, um filme de acção. Tem bastante trabalho de gabinete (literalmente) mas também não tem a carga dramática suficiente para lhe chamar de 'Drama'. 'Biopic', em jeito quase documental (esquecendo as polémicas), é o melhor termo.

A ideia de contar a história da procura e captura do terrorista mais procurado da última década (no mínimo) só se assumiu enquanto tal quando a realidade se sobrepôs às ideias de quem havia pensado este argumento inicialmente (Mark Boal, nomeado para o Oscar de Melhor Argumento). A ideia era contar o fracasso de toda a operação e levou o "bónus" do final feliz no dia 1 de Maio de 2011.

Pessoalmente, parece-me faltar qualquer coisa para o transformar num grande filme, já que entra demasiado pelos pormenores históricos, tornando-o extremamente longo e com um ritmo algo baixo, assumindo-se demasiadamente como algo documental. Talvez daí as críticas e as polémicas. Se Kathryn Bigelow tivesse adoptado uma ideia mais cinematográfica, com uma componente mais humana de cada personagem (excluindo Maya, a principal), o filme não seria o que é, a história da captura do homem mais procurado do mundo e quase passaria para a categoria dos filmes banais. Assim, fica quase com um documentário.

Quanto à realização de Bigelow, não lhe vejo qualquer valor acrescentado que justifique nomeações neste capítulo. Não sendo banal, também não é nada de extraordinário, destacando-se, contudo, a cena da captura de bin Laden. O poder da imagem (de algo que nunca foi mostrado na vida real) e da expectativa implícita ao decorrer dos acontecimentos (ainda que todos saibamos como acaba) conseguem torná-la numa grande cena, a melhor do filme e a única que poderá justificar uma nomeação para a realizadora.

Num elenco de desconhecidos, destaca-se claramente (a própria construção da história a isso ajuda) Jessica Chastain e a sua Maya. É ela o centro das atenções e será o único aspecto que destoa do ambiente documental. Papel muito bem conseguido, surpreendentemente distante do aspecto frágil de outros trabalhos recentes. Não tendo visto ainda qualquer uma das restantes nomeadas ao Oscar de Melhor Actriz, Chastain poderá ser a principal favorita.

Concluindo: não é um grande filme mas poderá ficar na história como "o" filme que conta a história da captura de Osama bin Laden. Sem certezas de que assim possa ser, haverá a hipótese de, no futuro, existirem outros títulos relacionados com este pedaço (importante) da história dos Estados Unidos e que se sobreponham à obra de Bigelow. É um risco que se corre com um filme a ser lançado menos de 2 anos após os acontecimentos. Talvez seja cedo de mais para contar esta história, especialmente com algo tão semelhante a um documentário e tão afastado de uma construção "à Hollywood".