«Café Society»

Woody Allen propõe-nos viajar até aos anos 1930 com Café Society (2016), num retrato valorativo e iluminado de uma época, no qual o próprio Cinema e os seus bastidores são alvos de escrutínio. A obra escrita e realizada pelo cineasta norte-americano conta-nos a história de Bobby (Jesse Eisenberg), um jovem do Bronx que resolve arriscar e mudar-se para Hollywood, onde julga que possa estar a concretização dos seus sonhos. Pelo meio, apaixona-se perdidamente por Vonnie (Kristen Stewart), secretária e amante do seu tio, Phil Stern (Steve Carell). 

Desencanto, ironia, paixões incontroláveis, reflexões filosóficas… Os típicos ingredientes de qualquer obra alleniana estão presentes em Café Society, mas não com a mesma força e magnetismo de outrora. O argumento é sólido, mas falta-lhe a magia de Meia-Noite em Paris (2011) ou a análise escrupulosa de Homem Irracional (2015, crítica aqui). A realização não arrisca em nenhum momento, como já vimos anteriormente em Match Point (2005, crítica aqui) ou, melhor ainda, em Annie Hall (1977) e Manhattan (1979).

Jesse Eisenberg, Kristen Stewart e Woody Allen nas filmagens de Café Society. Foto: Collider.
Algo que não falta, contudo, em Café Society, é um excelente elenco e muito bem dirigido. Kristen Stewart deslumbra, tendo uma presença muito forte em cena, acompanhada por um Steve Carell afinado, que aproveita da melhor forma a maior complexidade intrínseca do seu personagem. Já Jesse Eisenberg deixa passar algumas reminiscências de trabalhos anteriores – aqui e ali lembramo-nos do seu Mark Zuckerberg em A Rede Social (2010, crítica aqui). 

Café Society não é a melhor obra de Allen – mesmo comparando com a sua prolífica cinematografia recente – mas garante uma história envolvente, uma bela produção cénica e um guarda-roupa inspirativo, além de uma banda-sonora sempre deliciosa e cativante. Afinal de contas, é de Allen que falamos e continua a valer a pena ver as suas obras, com os seus diálogos acutilantes e as suas histórias, que nos fazem sempre olhar para nós próprios. 

(Crítica originalmente publicada no site da Metropolis)